segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A crise e os estados ibéricos

A União Europeia está a ter cada vez mais pessoas, entre os europeus, que se distanciam dos líderes e das instituições europeias. Porquê? Porque não suportam a degradação moral, social e mesmo democrática, e as crescentes desigualdades, a que assistem na União. Estão a perceber que cada vez há menos solidariedade entre os Estados-membros, que estes dependem dos mercados em vez de os meterem na ordem e que as conquistas sociais, que são responsáveis por cinco décadas de bem-estar para as populações europeias, estão a ser deliberadamente destruídas, para que os magnatas que controlam os mercados cada vez façam maiores fortunas, em virtude do capitalismo virtual, dos paraísos fiscais, etc.
Os partidos europeus têm vindo a perder força, principalmente os que no plano político-ideológico mais contribuíram para a construção europeia: os democratas-cristãos e os socialistas ou social-democratas. Foram ambos "colonizados" pela ideologia neoliberal, vinda dos Estados Unidos da América, e um pouco pela "terceira via" de Blair, assim se esbatendo as suas raízes ideológicas. Seja a doutrina social da Igreja dos democratas-cristãos, seja o socialismo democrático, fascinados ambos pela importância do dinheiro - para eles o supremo valor - esquecendo as pessoas, principalmente, as mais carenciadas.
Espanha e Portugal que tiveram ambos, nos últimos anos, governos socialistas, perderam-nos desde o início de 2012, com as vitórias eleitorais do Partido Popular (Espanha) e do PSD, do centro direita, em Portugal. Ambos Estados europeístas convictos, cujos povos compreendem bem a importância de pertencerem à União Europeia e o valor do euro, como moeda única. Espero que a circunstância política de os dois Estados ibéricos terem hoje governos de Direita não altere o europeísmo, que tem sido regra, desde que foi posto fim às duas obsoletas ditaduras peninsulares.
Ao contrário do que alguns líderes europeus julgam, os dois Estados ibéricos têm uma grande importância em termos europeus, que nem sempre tem sido assumida. Porque, melhor do que os Estados do Centro e Norte da Europa, têm um convívio especial com a Ibero-América - até por serem duas línguas ali faladas, o espanhol e o português - e também pelo relacionamento com os países do Sul do Mediterrâneo e, relativamente a Portugal, com os Estados africanos.
Numa fase extremamente difícil para a União Europeia, em que quase tudo está em jogo, confio nos dois Estados ibéricos, na autoridade que têm em termos europeus e lhes é reconhecida. Espero que tenham a coragem de erguerem as suas vozes e se saibam bater pelo futuro da Europa, neste momento tão imprevisível. Desde logo, na próxima Cimeira, anunciada para 30 de Janeiro, em Bruxelas. A entrevista que o atual ministro dos Assuntos Exteriores de Espanha, José Manuel García-Margallo, deu ao El Pais de 22 do corrente, vai nesse sentido. Disse ele: "A única saída para a crise do euro é dar um salto para a Europa federal". E ainda: "A austeridade e a estabilidade são necessárias, mas também há que criar emprego".

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