As más notícias para os chamados países periféricos da zona euro têm-se repetido desde o início do ano passado. Hoje, com grande probabilidade, deverá surgir mais uma, vinda directamente de Frankfurt.
A maior parte dos analistas está a antecipar que Banco Central Europeu (BCE) coloque um ponto final ao período de 23 meses consecutivos em que manteve a sua principal taxa de juro de refinanciamento em um por cento, o valor mais baixo desde a criação do euro. E isso pode, numa fase em que as economias mais fortes da Europa estão já a crescer a um ritmo elevado, prejudicar os países mais debilitados, um grupo onde se inclui Portugal.
Aos problemas de uma era de subida de taxas de juro na zona euro, para Grécia, Irlanda e Portugal, os países que já pediram ajuda aos seus parceiros europeus e estão a enfrentar programas de austeridade severos, poderá juntar-se uma política monetária restritiva e a uma política orçamental já com efeitos recessivos. Isto é: as economias que já estão a contrair-se sofrem ainda mais, o que poderá acabar por ter efeitos nocivos no próprio processo de consolidação.
E não se pense que as preocupações estejam apenas centradas nos países que já pediram auxílio financeiro externo. A Espanha - que, nas últimas semanas, parece ter conseguido afastar-se de forma decisiva do contágio dos seus parceiros - corre o risco de estar entre as economias mais afectadas pela subida de taxas de juro. O seu sistema bancário ainda está em stress com a queda dos preços do imobiliário e poderá sofrer com o efeito sobre o malparado que uma subida de taxas poderá ter num país em que a maior parte dos empréstimos está indexada à Euribor. Um problema semelhante ao que se pode assistir em Portugal.
A dimensão do problema depende, é claro, da dimensão da subida das taxas pelo BCE. De acordo com os mercados de futuros, prevê-se uma subida de 0,25 pontos hoje e mais duas idênticas até ao final do ano.
O medo da inflação
Perante este cenário, o que leva o BCE a actuar desta forma? O problema é que, para o banco, existem duas regras que não se podem quebrar: a política monetária é decidida para toda a zona euro e garantir a estabilidade de preços é o objectivo principal.
Na zona euro, a inflação está já acima dos dois por cento, a meta definida pelo BCE como objectivo e os responsáveis do bancos têm vindo a mostrar uma preocupação crescente com os efeitos que a escalada dos preços dos alimentos e da energia pode vir a ter numa economia que, no seu todo, já começa a apresentar taxas de crescimento razoáveis. A Alemanha, com um peso muito significativo na zona euro, já está com taxas de crescimento próximas de três por cento, o desemprego a diminuir e a inflação a aumentar a cada mês que passa. Perante isto, a recessão de Portugal, Irlanda e Grécia acaba por ter uma importância relativa.
"Estes países são os danos colaterais na guerra contra a inflação e, aos olhos do BCE, este é um preço que vale a pena pagar", afirmava ontem ao Financial Times um analista da firma de investimentos Evolution Securities. A expectativa existe ainda em relação ao que Jean-Claude Trichet irá dizer relativamente às outras medidas extraordinárias que o banco central lançou para socorrer as economias da zona euro com maiores dificuldades durante a crise.
Por um lado, o programa de compras de obrigações de tesouro que serviu para, de forma indirecta, ajudar os Estados dos países periféricos a financiarem-se nos mercados. Sobre esta matéria, têm sido evidentes as diferenças de opinião entre os vários responsáveis do BCE. Axel Weber, o ex-governador do Bundesbank, manifestou-se várias vezes contra este programa, enquanto Trichet tem optado por um discurso muito mais prudente. De qualquer forma, é evidente o desconforto que existe em Frankfurt com esta tarefa, que o BCE gostaria de ver ser desempenhado pelos governos da zona euro. Nas duas últimas semanas, o banco não efectuou qualquer compra de obrigações no mercado secundário - apesar de Portugal precisar dessa ajuda quase desesperadamente - e Trichet pode dar hoje indicações preciosas sobre o que irá acontecer nos próximos meses.
A outra questão é a da manutenção das emissões de dinheiro a taxa fixa e em montantes ilimitados, que, desde o início da crise, substituíram os leilões que eram feitos para emprestar dinheiro aos bancos da zona euro. Não se esperam aqui quaisquer alterações, já que neste caso seria o mesmo que tirar o tapete aos bancos gregos, irlandeses, portugueses e espanhóis que ainda dependem do financiamento fácil do BCE para a sua sobrevivência.
Aos problemas de uma era de subida de taxas de juro na zona euro, para Grécia, Irlanda e Portugal, os países que já pediram ajuda aos seus parceiros europeus e estão a enfrentar programas de austeridade severos, poderá juntar-se uma política monetária restritiva e a uma política orçamental já com efeitos recessivos. Isto é: as economias que já estão a contrair-se sofrem ainda mais, o que poderá acabar por ter efeitos nocivos no próprio processo de consolidação.
E não se pense que as preocupações estejam apenas centradas nos países que já pediram auxílio financeiro externo. A Espanha - que, nas últimas semanas, parece ter conseguido afastar-se de forma decisiva do contágio dos seus parceiros - corre o risco de estar entre as economias mais afectadas pela subida de taxas de juro. O seu sistema bancário ainda está em stress com a queda dos preços do imobiliário e poderá sofrer com o efeito sobre o malparado que uma subida de taxas poderá ter num país em que a maior parte dos empréstimos está indexada à Euribor. Um problema semelhante ao que se pode assistir em Portugal.
A dimensão do problema depende, é claro, da dimensão da subida das taxas pelo BCE. De acordo com os mercados de futuros, prevê-se uma subida de 0,25 pontos hoje e mais duas idênticas até ao final do ano.
O medo da inflação
Perante este cenário, o que leva o BCE a actuar desta forma? O problema é que, para o banco, existem duas regras que não se podem quebrar: a política monetária é decidida para toda a zona euro e garantir a estabilidade de preços é o objectivo principal.
Na zona euro, a inflação está já acima dos dois por cento, a meta definida pelo BCE como objectivo e os responsáveis do bancos têm vindo a mostrar uma preocupação crescente com os efeitos que a escalada dos preços dos alimentos e da energia pode vir a ter numa economia que, no seu todo, já começa a apresentar taxas de crescimento razoáveis. A Alemanha, com um peso muito significativo na zona euro, já está com taxas de crescimento próximas de três por cento, o desemprego a diminuir e a inflação a aumentar a cada mês que passa. Perante isto, a recessão de Portugal, Irlanda e Grécia acaba por ter uma importância relativa.
"Estes países são os danos colaterais na guerra contra a inflação e, aos olhos do BCE, este é um preço que vale a pena pagar", afirmava ontem ao Financial Times um analista da firma de investimentos Evolution Securities. A expectativa existe ainda em relação ao que Jean-Claude Trichet irá dizer relativamente às outras medidas extraordinárias que o banco central lançou para socorrer as economias da zona euro com maiores dificuldades durante a crise.
Por um lado, o programa de compras de obrigações de tesouro que serviu para, de forma indirecta, ajudar os Estados dos países periféricos a financiarem-se nos mercados. Sobre esta matéria, têm sido evidentes as diferenças de opinião entre os vários responsáveis do BCE. Axel Weber, o ex-governador do Bundesbank, manifestou-se várias vezes contra este programa, enquanto Trichet tem optado por um discurso muito mais prudente. De qualquer forma, é evidente o desconforto que existe em Frankfurt com esta tarefa, que o BCE gostaria de ver ser desempenhado pelos governos da zona euro. Nas duas últimas semanas, o banco não efectuou qualquer compra de obrigações no mercado secundário - apesar de Portugal precisar dessa ajuda quase desesperadamente - e Trichet pode dar hoje indicações preciosas sobre o que irá acontecer nos próximos meses.
A outra questão é a da manutenção das emissões de dinheiro a taxa fixa e em montantes ilimitados, que, desde o início da crise, substituíram os leilões que eram feitos para emprestar dinheiro aos bancos da zona euro. Não se esperam aqui quaisquer alterações, já que neste caso seria o mesmo que tirar o tapete aos bancos gregos, irlandeses, portugueses e espanhóis que ainda dependem do financiamento fácil do BCE para a sua sobrevivência.
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