Por quanto tempo? Dois anos? Quatro anos? Essa é a grande incógnita. Contudo, por agora, há pelo menos uma certeza: à espera de Sócrates vai estar um parlamento com renovados poderes fiscalizadores e capacidade de influência. Miguel Morgado, doutorado em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, explica porquê: "Olhamos para a nova configuração da Assembleia da República e vemos um CDS reforçado e um Bloco de Esquerda reforçado. E tanto à esquerda como à direita, ninguém vai fazer favores ao PS. É um Parlamento com mais influência, sobretudo para vetar as iniciativas do governo."
Encurralado, Sócrates olha para a direita e vê uma maioria PSD-CDS: 99 deputados, ou 78 mais 21 respectivamente.
À esquerda estão forças que durante a campanha se mostraram pouco disponíveis para ajudar o PS. E sabem que se o fizerem podem pagar um elevado preço político. Por isso, a grande questão é saber o que é que Sócrates vai fazer para passar no Parlamento legislação crucial. "Acredito que Sócrates vai arriscar tudo e não vai fazer coligações com nenhum partido, apostando antes em acordos pontuais", prevê Morgado.
As eleições reequilibraram as relações de força no Parlamento e consagraram o CDS como terceira força política nacional, com o melhor resultado desde 1985. Com perto de 600 mil votos, os populares elegeram deputados na maioria dos círculos e conseguiram até um mandato na Madeira. No lado oposto do arco parlamentar, o Bloco de Esquerda cumpriu todos os objectivos - só não conseguiu ser a terceira força - e dobrou a representação parlamentar: de oito para 16 mandatos. Más notícias para Sócrates? "Há um enorme reforço do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda. E, apesar da vitória pessoal de José Sócrates, o BE vai aumentar a pressão sobre a coesão interna dos socialistas", vaticina Morgado. Com menos razões para comemorar ficou Jerónimo de Sousa. Embora o PS tenha perdido a maioria absoluta e a CDU até tenha crescido em número de votos (mais 14 mil sufrágios), a aliança entre comunistas e verdes passa a ser a última força parlamentar.
Num parlamento que se adivinha "de combate", destaque para o regresso de Ribeiro e Castro e a entrada de Assunção Cristas. Reforços para uma bancada que perdeu, para a Europa, Diogo Feio e Nuno Melo. Nas fileiras do PSD perdeu-se Pedro Santana Lopes e Paulo Rangel. Mas Manuela Ferreira Leite já disse que fica e vai ter a companhia de Deus Pinheiro, Pacheco Pereira, Couto dos Santos e Maria José Nogueira Pinto.
Pesos pesados para um parlamento de vida curta? A primeira prova é a apresentação do Programa de Governo e do Orçamento do Estado. Aí Sócrates saberá com o que pode contar. Para já, fica com a certeza de que a Assembleia não pode ser dissolvida nos primeiros seis meses de vida (até Abril de 2010), nem nos últimos seis meses do mandato de Cavaco Silva (Setembro de 2010 e Março de 2011).
Na agenda socialista, o semestre que corre de Abril a Setembro de 2010 está sublinhado a vermelho: é aí que o Parlamento pode cair.
Sem comentários:
Enviar um comentário