quarta-feira, 15 de abril de 2009

O (d)efeito Obama

Em Londres, apareceu com o braço ao pescoço, como Egas Moniz, humilde perante a História. Não trazia ultimatos, e muitas das suas propostas não foram enfatizadas pelo G20. Semanas antes da Páscoa da Ressureição, confessou os pecados financeiros da Wall Street, e explicou ainda que o seu país teve, na História, momentos menos luminosos.
Em Estrasburgo, atravessando simbolicamente a distância que outrora separou, pelas palavras e pelas armas, a França e a Alemanha, falou a favor de uma OTAN de segurança, celebrou a libertação da Europa de Leste, lembrou o perigo que ainda permanece, na sombra, algures entre Paquistão e Afeganistão.
Em Praga e em Istambul, afirmou o compromisso americano com os seus novos e velhos aliados, e sugeriu o velho sonho do fim do nuclear militar. Abraçou o Islão "justo", e foi depois ao Iraque saudar as tropas, como comandante-chefe, e pedir aos locais que tomem conta do próprio destino.
Obama esteve, no fundo, por toda a parte. Exibiu o novo "poder macio" dos EUA, onde importa primeiro ouvir, tomar notas, e preparar as bases para uma acção multilateral.
Para além disso, voluntária e involuntariamente, transformou outra vez a Casa Branca em cultura popular de massas, como se fosse uma estrela de rock.
Obama torna assim os EUA outra vez relevantes do ponto de vista da comunicação e imagem. Mas torná-los-á também importantes da perspectiva da influência real?
Provavelmente, não, mas o Mundo mudou, e os centros de poder espalharam-se. Obama seria um louco, ou um suicida, se não reconhecesse isto.
Por outro lado, a crise financeira, geralmente atribuída à corrupção do sistema bancário americano, fez diminuir os padrões de qualidade e referência de Washington. Pior do que um país que já não é temido, é um estado que já não é respeitado.
Tudo isto provocou uma revolução genuína no presidente. O seu protagonismo e omnipresença, a sua ânsia de explicar a sua versão da história e as suas intenções, o genuíno deleite quando se funde no público, ou dá a mão a adversários, constituem muito mais do que fogo-de-artifício. São estilo e substância.
Pode não se gostar, claro. Alguns comentadores acham que os EUA devem deixar o período de introspecção, para voltar a dar ideias ao Mundo. Mas Obama faz também isto, todos os dias.
Ouros observadores comentam que tudo depende demasiado de Obama, em Washington. Há poucos dias, o seu director de campanha, David Plouffe, veio a Lisboa dizer que, se a sua política não for aceite no Congresso, o presidente falará directamente ao povo. Na Europa, isto poderia soar a bonapartismo. Nos EUA, significa apenas que um presidente legitimado tem mais do que uma arma no saco.
Por outro lado, Obama baixa expectativas e pede às pessoas para que não se iludam: face ao abismo, não há magia, mas paciência e trabalho.
O efeito Obama não parece assim, salvo melhor opinião, defeito.


Nuno Rogeiro

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