Esse é, aliás, o aspecto mais desconcertante que rodeia a figura deste criador: por mais que se investigue, não se consegue descobrir nada de relevante sobre a sua vida íntima/privada, nada de concreto sobre o que pensava (ou o apreço que teria) das suas obras, nenhuma reflexão pessoal. Conhece-se bem, apenas, o que rodeia a sua actividade pública. E é tudo.
Decididamente, Händel era muito cioso da sua privacidade. E decididamente teve pleno sucesso em conservá-la... privada. O que é tanto mais notável, porquanto há a considerar que o compositor era uma figura pública da vida londrina, com elevada exposição mediática e que se movia amiúde nos círculos da nobreza inglesa, universos esses onde o boato, a intriga eram prática estabelecida, dir-se-ia, "obrigatória".
Esse carácter inexpugnável explica por que o "fumo", lançado ciclicamente, da sua homossexualidade nunca passe, realmente, de fumo. Mas o mesmo se passa se tentarmos encontrar-lhe relações com mulheres (escusado será dizer que nunca casou).
Também não se sabe até hoje ao certo por que decidiu abandonar Itália, apesar do imenso sucesso que aí conheceu (1706-10); ou porque trocou Hannover por Londres, mal fôra nomeado para... Hannover (1710), havendo quem sugira um Händel agente secreto de Sua Majestade, o Príncipe-Eleitor de Hannover, futuro (1714) Jorge I de Inglaterra... ; ou se a Paixão luterana conhecida por Brockes Passion (1715-16) era uma candidatura velada para Hamburgo; ou porque recusou um doutoramento honorário por Oxford; ou porque tomou de empréstimo tanta música de outros autores. E, no entanto, Händel foi alvo da primeira biografia individual de um músico, a de Mainwaring, saída logo em 1760!
Felizmente que muitos dos que com ele conviveram deixaram impressões do homem. E afortunados somos, porque podemos ouvir (quase) tudo o que compôs.
bernardo mariano
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