quarta-feira, 1 de abril de 2009

Ensinamentos antigos

O que as velhas Línguas ensinam (1) - Sinónimo babilónico para fazer sexo: rir.
Vamos rir um pouco para trás das árvores?
É curioso que Afrodite, a deusa grega do amor, também era chamada aquela que sorri.
Sorrir é o rir controlado, é a ameaça do riso. Rir é o descontrole.
Distinção pois entre amor-sentimento e amor carnal-fornicação: no primeiro, o sorriso anuncia qualquer coisa boa detrás de uma cortina, algo que aí vem; o riso é já a seguir ao desvendamento, é o prazer puro.
Todos sorriem porque querem rir, todos riem porque querem sorrir.
O que as velhas Línguas ensinam (2) Como se diz desejo nas línguas antigas que tudo dizem?
O desejo das mulheres é descrito assim: 'põe os olhos no pénis'.
Não conheço, em qualquer língua moderna, uma definição mais directa.
O que as velhas Línguas ensinam (3) Outro nome antigo para o pénis: pedra-do-amor.
Uma frase possível: ela gosta da pedra-do--amor dele. Ou, frase mais lasciva: ela não consegue largar a pedra-do-amor.
O que as velhas Línguas ensinam (4) Alguns povos chamavam ao orgasmo: 'levantar o coração'.
O que podia dizer um homem, orgulhoso da sua capacidade de dar prazer: vou pôr o teu coração no ramo mais alto.
O que ela pedia, doce: levanta-me o coração até ao sítio de onde, olhando para baixo, se vê o ramo mais alto.
Que o coração te saia por cima da cabeça; que o teu coração seja levantado muitas vezes: eis mais duas frases fortes – disse a senhora Woolf.
O que as velhas Línguas ensinam (5) - Antigos textos médicos da Babilónia já descreviam essa enorme doença:
'quando o paciente não pára de tossir; quando frequentemente lhe faltam as palavras; quando constantemente fala sozinho e ri sem razão a todo o momento (...) quando se sente habitualmente deprimido, com a garganta apertada, sem prazer pela comida e pela bebida e repetindo sem parar e através de grandes suspiros: Ah, o meu próprio coração - ele sofre do mal de amor.' (de ‘Amor e Sexualidade no Ocidente’)
Como se vê, um mal antigo.
O que as velhas Línguas ensinam (6) Claro que o amor não é só o atrito entre duas partes de carne como dizia um dos antigos; isso talvez seja um exagero.
Escreve o poeta chinês Li Bai:
'Mesmo sem dinheiro, posso respirar a brisa, olhar a lua.'
Mesmo sem dinheiro, vejo. E ver, de certa maneira, é também um acto amoroso.
Gonçalo M. Tavares

Sem comentários: