quarta-feira, 8 de abril de 2009

Gravidez na adolescência: antes de criar uma vida é preciso aproveitá-la

Há algumas décadas, poderia atribuir-se este comportamento displicente à falta de informação. Mas, actualmente, existe à disposição dos jovens toda uma panóplia de plataformas de esclarecimento sobre os vários métodos de prevenção da gravidez. Mais ainda... estes métodos são acessíveis, não muito dispendiosos e podem ser ampla e facilmente utilizados pelos mais novos.
Ao contrário do que seria de prever, estudos realizados em Portugal demonstram que cerca de 16% das adolescentes não fazem qualquer contracepção, apesar de serem sexualmente activas, e que nove em cada dez utilizadoras já se esqueceram de tomar a pílula. A prová-lo está também a elevadíssima taxa de jovens portuguesas grávidas que nos torna o país europeu, logo a seguir ao Reino Unido, com maior número de casos.
Estes indicadores traçam um cenário bastante alarmante, a nível nacional e não só, já que anualmente calcula-se que 14 milhões de adolescentes no mundo se tornem mães e 10% dos abortos realizados sejam praticados por mulheres entre 15 e 19 anos.
Na raiz do problema, encontramos variadas explicações. A primeira reside na falta de informações correctas sobre os métodos de prevenção da gravidez e respectiva utilização. É frequente os pais acharem que os filhos adolescentes já estão suficientemente esclarecidos sobre o tema e demitirem-se da responsabilidade de trazerem o assunto, muitas vezes constrangedor, para ‘cima da mesa’.
Outra justificação poderá estar no facto de as raparigas atingirem a maturidade sexual cada vez mais cedo, por volta dos 10 anos. Coincidência ou não, a verdade é que grande percentagem das jovens engravidam nos primeiros seis meses após a primeira experiência.
Mas estas imprudências saem caro...e a factura chega passados nove meses. Interrupção dos estudos e adiamento dos projectos de vida futura são normalmente o preço a pagar já que a grande maioria dos adolescentes não tem condições financeiras nem emocionais para assumir a paternidade.
Para prevenir gravidezes indesejadas a forma mais eficaz continua a ser a utilização conjunta de contraceptivos: pílula e preservativos. A pílula é usada por mais de 80 milhões de mulheres em todo o mundo e, para além de evitar a gravidez, oferece outras vantagens a nível de saúde como: redução do risco de desenvolvimento de cancro no útero e nos ovários, combate de certos tipos de acne e da síndrome pré-menstrual.
Família, professores, meios de comunicação social e entidades governamentais devem, pois, ter um papel interventivo na sensibilização dos adolescentes para a utilização dos métodos de prevenção da gravidez, procurando incutir nesta camada etária comportamentos conscientes a nível sexual, de uma forma pedagógica mas também livre de tabus e ideias pré-concebidas.
Porque a maternidade é um assunto demasiado sério... deixo aqui um conselho aos mais jovens: aproveitem a vida, primeiro, antes de pensarem em colocar uma criança no mundo...um filho é uma responsabilidade muito séria que nada tem de brinquedo.
Fernando CirurgiãoDirector do Serviço de Obstetrícia do Hospital São Francisco Xavier

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