segunda-feira, 6 de abril de 2009

Vinte indiozinhos

Vinte indiozinhos? A propósito do G20? Sim, mas ao contrário. Lembram-se do enredo? Um grupo de pessoas é chamado a um sítio remoto, pelo anfitrião misterioso. Os seus membros vão morrendo, um a um. Uma das possíveis morais da história é a de que morrem porque são egoístas, e porque pensam que podem salvar-se sozinhos.
No G20, declarou-se o contrário. Brown chamou-lhe "o novo consenso". Por outras palavras, estão todos no mesmo barco. Ou, como dizem os ingleses, nos mesmos sapatos.
Mas o G20 é representativo?
Os números estão aí: representa 91% do PIB mundial, 85% da população, etc.. Inclui os emergentes BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), dois gigantes latino-americanos periclitantes, países islâmicos, os tigres asiáticos "ocidentais", a União Europeia, os EUA. Mas a África, claro, está sub-representada. Quando crescer, aparecerá.
Há divergências fundamentais?
Digamos que há acentos tónicos diferentes, mas a reunião, em si mesma, foi a prova de que os países acordam no essencial. Como se dizia no acordo de 2004, acreditam no "crescimento sustentado". Muita da substância, claro, tinha sido preparada pelos "sherpas", burocratas zelosos que andavam a trabalhar há meses.
Quem tem a culpa da crise?
O "comité médico" fez um primeiro diagnóstico: houve um contágio da banca podre do Norte sobre a "economia real". Mas não foram só os bancos dos brancos, para citar Lula. Como diz Obama, à cupidez dos agiotas juntou-se a avidez dos accionistas e a estupidez dos devedores. E a rapidez dos fluxos, acelerada pelos instrumentos técnicos da globalização.
O que se perdeu, desde então?
Para uns, é crise, para outros, recessão, para outros, ainda depressão. Temos queda massiva de empregos, bancos empobrecidos, produtores que não conseguem vender, consumidores que não conseguem comprar, e um número aterrorizador: cada cidadão do Mundo terá perdido oito mil dólares nos últimos cinco meses.
O que fazer?
Em essência, o G20 foi claro na política dos rr: mais regulação, mas credível, redistribuição de papéis no sistema mundial, reforma de instituições, reestruturação da banca, responsabilização de empresários.
O objectivo é melhor comércio, mais emprego, mais confiança e estabilidade. E alguma ajuda, sem condições, aos países pobres (50 biliões americanos).
O proteccionismo é uma solução?
Há vários proteccionismos: agressivo, defensivo, tradicional, excepcional, regional, nacional, admitido, encapotado. Mas nenhum foi saudado pelos G20. Pelo contrário.
Pode haver guerra?
Ao contrário de outras alturas da história, não se vê, mesmo para os loucos, o que se poderia resolver por uma guerra. E quem seriam os beligerantes?
Que fazer com os "offshore"?
Como se disse no G20, punir os que não cumprem, nem são transparentes, e manter os outros. A "lista negra" era sussurrada, mas foi bom torná-la pública.
Estamos a construir uma nova Bretton Woods? Refroma-se a velha Bretton Woods, a começar pelo FMI e pelo Banco Mundial, e ao criar o novo "Conselho de Estabilidade Financeira". Haverá mais "aviso prévio", mais fundos para empréstimos de curto prazo e "empréstimos preventivos".
Bretton Woods era essencialmente uma construção euro-americana. Agora há mais actores.
Há um efeito Obama?
Há. Os EUA aparecem agora como uma superpotência "normal", que impressiona, mas não pressiona, e que ouve mais do que dita. Sem esquecer o que é o interesse do seu povo.
jn nuno rogeiro

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