sexta-feira, 3 de abril de 2009

Adolescentes consomem mais álcool

Os jovens portugueses com 16 anos estão a consumir cada vez mais álcool e em grandes quantidades. O aumento do consumo tem sido contínuo ao longo dos últimos anos e tornou-se rotina.
O problema é tão grave que o presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência, João Goulão, vai apresentar este ano ao Ministério da Saúde um plano nacional do álcool que, entre outras medidas, propõe o aumento da idade legal da venda e consumo de bebidas dos 16 para os 18 anos.
João Goulão disse ao CM que a proibição da venda de álcool a menores de 18 anos é especialmente importante porque as consequências de um consumo exagerado na adolescência surgem poucos anos depois: 'Começam a surgir jovens nos hospitais, entre os 20 e os 30 anos, com cirroses, resultado de um consumo precoce de álcool.'
O presidente do Instituto acrescenta que a par do aumento da idade legal da venda de álcool a proposta que apresenta ao Ministério da Saúde inclui acções de prevenção do alcoolismo e outras dependências junto dos mais novos.
O secretário de Estado da Saúde, Manuel Pizarro, constatou que este é 'um problema muito sério, mas que não passa apenas pela repressão: 'É necessário envolver as instituições e a família.'
As declarações surgem no âmbito dos resultados do estudo ESPAD/2007, realizado em 35 países europeus, incluindo Portugal, que apresenta as prevalências e os padrões de consumo de álcool, tabaco e drogas entre os adolescentes que frequentavam a escola e que completaram os 16 anos no ano em que decorreu o estudo (2007).
MAIS DE CINCO BEBIDAS
Uma forma de medir a embriaguez consistiu em perguntar aos estudantes com que frequência tinham consumido cinco ou mais bebidas numa única ocasião. O consumo esporádico excessivo foi admitido por 54 por cento dos jovens inquiridos, rapazes e raparigas, sem distinção de sexo.
Este comportamento coloca Portugal no quarto lugar do ranking dos países europeus com um consumo excessivo esporádico de bebidas alcoólicas.
A cerveja é a bebida preferida dos estudantes, representando 40 por cento da quantidade consumida, seguida das bebidas espirituosas (30 por cento) e do vinho (13 por cento). Os rapazes preferem a cerveja, as raparigas optam pelas bebidas destiladas.
Fernanda Feijão, do Instituto da Droga e da Toxicodependência e coordenadora do estudo em Portugal, considera que o consumo de álcool pelos jovens causa 'grande preocupação'.
Alguns jovens referiram ter tido problemas resultantes do consumo de álcool – designadamente com os pais, um pior desempenho no aproveitamento escolar, agressões físicas, acidentes ou ferimentos, relações sexuais não protegidas e problemas com as autoridades policiais.
De acordo com o estudo, o aumento do consumo de álcool entre os adolescentes foi especialmente acentuado entre os anos de 2003 e de 2007.
ELAS PREFEREM OS SEDATIVOS
O consumo ao longo da vida de tranquilizantes ou sedativos sem receita médica é mais comum na Polónia, Lituânia, França e Mónaco, onde cerca de 15 por cento dos estudantes reconheceu hábitos de consumo. No entanto, esse consumo não é alheio aos jovens portugueses, em especial às raparigas. Nove por cento das jovens admitiu o consumo ao longo da vida, enquanto os rapazes admitiram uma menor ingestão (quatro por cento).
Quanto às substâncias inaladas (sprays e colas), os maiores consumidores ao longo da vida são os estudantes de Chipre, Malta, Ilha de Man e Eslovénia (16 por cento), enquanto a média do consumo dos países participantes no estudo é de nove por cento. Em Portugal, cinco por cento dos rapazes reconheceu consumir ao longo da vida, enquanto três por cento das raparigas admitiu fazê-lo. Os números relativos à prevalência ao longo da vida mantêm-se relativamente estáveis desde 1995.
ACESSO ÀS DROGAS FACILITADO
Vinte e nove por cento dos adolescentes portugueses referiu ter um acesso fácil a drogas ou razoavelmente fácil, uma acessibilidade que coloca Portugal quase a meio da tabela dos 35 países analisados, liderada pelos Estados Unidos (que têm estudos comparativos), República Checa, Dinamarca e Espanha. Quanto à prevalência do consumo ao longo da vida, os rapazes destacam-se pelo maior consumo relativamente às raparigas. A prevalência do consumo da canábis ocorrido durante 30 dias coloca Portugal praticamente a meio da tabela. O estudo revela que um terço dos jovens tem acesso facilitado à canábis, ao contrário do que acontece com as anfetaminas e o ecstasy, que parecem ser produtos menos acessíveis.
Em média, 23 por cento dos rapazes e 17 por cento das raparigas experimentaram drogas ilícitas pelo menos uma vez na vida.
PORTUGUESES SÃO DOS EUROPEUS QUE MENOS FUMAM
Os estudantes portugueses de 16 anos são dos jovens europeus que menos fumam cigarros. Em média, 58 por cento dos estudantes de todos os países relatou já ter fumado cigarros pelo menos uma vez e 29 por cento assumiu tê-lo feito nos 30 dias anteriores ao dia do inquérito. Destes, dois por cento tinham fumado pelo menos um maço de cigarros diariamente no mês anterior.
Áustria, Bulgária, República Checa e Letónia registam a maior prevalência de consumo de tabaco entre estes jovens, com percentagens na ordem dos 40 a 45 por cento, enquanto Portugal, Arménia, Islândia e Noruega são os que tem menor consumo (7 a 19 por cento). Não existe padrão geográfico óbvio, mas o estudo destaca que os estudantes da Europa Central e do Leste revelam taxas mais elevadas de consumo de tabaco. Os portugueses revelam ter fácil acesso ao tabaco (73 por cento), tal como os jovens da Áustria e da República Checa.
PORMENORES
AOS 13 ANOS
Um estudo nacional feito a 18 mil alunos dos 13 aos 18 anos revela um aumento acentuado do consumo de bebidas alcoólicas contínuo, principalmente nos rapazes.
CANÁBIS
O consumo da canábis diminuiu ligeiramente em 2007 comparativamente com 2003, de acordo com o estudo. No entanto, verifica-se um aumento do consumo nas várias faixas etárias (13 aos 18).
CIGARROS
Em 2007 verificou-se uma diminuição do consumo de tabaco entre os estudantes em relação a 2003, conclui o mesmo estudo nacional. O consumoé ligeiramente superior nos rapazes.
Cristina Serra

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