quarta-feira, 1 de abril de 2009

Poema

Rosto nu na luz directa.
Rosto suspenso, despido permeável,Osmose lenta.
Boca entreaberta como se bebesse,Cabeça atenta.
Rosto desfeito,
Rosto sem recusa onde nada se defende,
Rosto que se dá na angústia do pedido,
Rosto que as vozes atravessam.
Rosto derivando lentamente,Presentimento que os laranjais segredam,
Rosto abandonado e transparente
Que as negras noites de amor em si recebem.
Longos raios de frio correm sobre o mar
Em silêncio ergueram-se as paisagens
e eu toco a solidão com uma pedra.
Rosto perdido
Que amargos ventos de secura em si sepultam
E que as ondas do mar puríssimas lamentam.
Sophia Mello Breyner

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