terça-feira, 7 de abril de 2009

Que fazer para ser General?

A proposta de promoção a general do Coronel Jaime Neves tem o apoio unânime do Conselho dos Chefes de Estado Maior, foi lançada segundo consta nos jornais por gurus do regime pós novembrista, como Ramalho Eanes e Rocha Vieira, e justificada publicamente, entre outros, por generais na reserva que detiveram altos cargos como o ex-Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas General Gabriel Espírito Santo e o ex Chefe do Estado Maior do Exército e ex-Ministro da Defesa General Loureiro dos Santos.
O Chefe do Estado Maior do Exército, responsável imediato pela proposta de promoção que o ministro da defesa se prepara para assinar, afirma peremptório e lacónico que a promoção se deve a razões estritamente militares.
E quais serão elas que concitam tal unanimidade entre as mais altas e distintas figura militares?
É fácil: Jaime Neves desde há vinte e nove anos, mais coisa menos coisa, que é director de uma empresa de segurança privada. Antes fora convidado para o curso de oficial general que recusou. Isto depois de ter sido promovido a coronel por escolha imediatamente a seguir ao golpe do 25 de Novembro, de que foi o executor operacional.
O curriculum militar anterior está relacionado com a sua operacionalidade na guerra colonial com todos os ingredientes que lhe valeram altas condecorações atribuídas pela hierarquia e pelo regime colonialista.
No 25 de Abril Jaime Neves tinha como missão organizar uma série de equipas de comandos para diversas missões de captura de oficiais não comprometidos com o golpe que havia de derrubar o regime e abrir o caminho para a revolução social e política. Nenhuma delas foi cumprida.
Os principais planeadores, organizadores e executores do 25 de Abril ficaram de fora das promoções normais, grande parte viu as carreiras liquidadas e só há oito anos elas foram reconstituídas num arremedo de reposição da justiça.
Dos principais responsáveis pelo 25 de Novembro, todos os que adoptaram uma linha de defesa intransigente da demoracia e dos valores mais gerais do 25 de Abril foram postos na prateleira e chutados para canto. Vasco Lourenço o principal responsável político/militar pelo 25 de Abril e pelo 25 de Nov embro é um deles. O major-general Pezarat Correia, um dos mais competentes oficiais generais e brilhante académico, viu a sua carreira cerceada por motivos políticos. Otelo o responsável pela direcção das operações do 25 de Abril nunca viu tal facto reconhecido pela hierarquia militar. Salgueiro Maia, o ícone da revolução e que conduziu as delicadíssimas operações no Largo do Carmo e enfrentou a coluna de carros de combate M47 demonstrando uma calma, audácia e coragem relevantes, ficou-se pelo posto de tenente-coronel depois de ter sido colocado como conservador de museu.
A promoção de Jaime Neves a general, nas actuais circustâncias e nesta oportunidade, só pode entender-se numas Forças Armadas cujas referências operacionais e morais são as do exército colonial – e mesmo nesse quadro bastante corroídas, e para as quais o 25 de Abril não passa de um engulho de difícil digestão.
Mas, em última instância o que leva, dentro do contexto, os altos dignitários do Estado a darem o aval a esta inusitada e estranhíssima promoção?
A crise promete ser dura e o povo, o sereno, sereníssimo povo, já mostrou que quando a tal é forçado, sabe tomar conta de si e da democracia.
O Estado quer, então, dar sinal. As Forças Armadas devem ter claras as suas referências (é esse um dos papéis do generais) para os dias duros que aí podem vir quando as mandarem intervir no âmbito da segurança interna (a lei já o preparou) à Berllusconi e estarem disponíveis para reprimir à antiga os marginalizados do sistema, os revoltados e indignados com a corrupção e a ganância, os estigmatizados pelo desemprego e a fome, os militantes políticos e os democratas que não transijam com o reino do arbítrio e da violência na resolução dos problemas sociais e políticos.
Os serviços de informações já andam a traçar o perfil do inimigo interno: jovem, desempregado ou estudante, “esquerdista”, não conformado, disposto a vender caros os seus direitos, a sua dignidade e indignação.
Que melhor exemplo para as FA's do que o seu General, promovido ad hoc por distinção, que nos idos de Abril mostrou alta eficácia a perseguir e destroçar as manifestações como aquela de que foram vítimas os deficientes das forças armadas, e que certamente nunca esquecerão, quando lutavam corajosamente pela sua associação, a actual e prestigiada ADFA ?
A síndrome da Grécia anda por aí e, para já, ajuda a promover a general o patrão de segurança privada Jaime Neves, campeão do 25 de Novembro, perseguidor implacável de manifestantes.
Trata-se de uma conjugação de astros auspiciosa onde não faltam certamente Cavaco Silva, José Sócrates, o Ministro da Defesa e os altos comandos militares. Eles sabem ao que andam. E não é coisa boa pela certa.
À atenção de quem de direito.
Mário Tomé

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