terça-feira, 10 de novembro de 2009
Carvalho da Silva, líder da CGTP, diz que empresas podem cortar outros custos que não os salários
Há uma pressão cada vez maior de empresas, economistas e do Banco de Portugal para, perante a conjuntura económica de crise, moderar ou congelar salários. Aceita este argumento?
Uma das causas da crise em que a sociedade vive resulta da persistência de reduzir a retribuição do trabalho. Observando-se a evolução da distribuição da riqueza nos últimos anos constata-se que a parte que vai para o factor trabalho vem diminuindo. Foi isso e a situação de crise que levou a que na cimeira intergovernamental - no âmbito da conferência anual da Organização Internacional do Trabalho (OIT) - tenha havido um pacto em que um dos apelos, sugerido pela OIT e assumido pelos governos, patrões e sindicatos, foi a não redução dos salários. Em Portugal é esta pedinchice. Não sabem fazer outra coisa, é uma vergonha. 2010 será o Ano Mundial de Combate à Pobreza e um factor relevante é que parte significativa da pobreza resulta hoje dos baixos salários.
O economista José Silva Lopes disse há dias que aumentos salariais em 2010, com as empresas fragilizadas pela crise, seriam "fábricas de desemprego"...
O dr. Silva Lopes que experimente viver com o salário mínimo nacional dois ou três meses e depois se pronuncie.
Mas não falava só do salário mínimo, estava a falar dos aumentos em geral.
O trabalho e o emprego têm dimensões simultaneamente económicas, sociais, culturais e políticas. As políticas salariais não são uma questão meramente da economia. A própria economia não melhora apenas por factores quantitativos: há também os de ordem social, cultural e política, que muitas vezes têm mais influência que os factores económicos. Tenho pena de ver declarações destas. Como se os problemas que o mundo está a viver não fossem evidência de que o problema não está nos salários dos trabalhadores, mas numa acumulação injusta de riqueza.
A verdade é que as empresas enfrentam uma série de adversidades que são rígidas e sobre as quais não têm influência nenhuma: euro alto, petróleo caro, financiamento caro...
Sim, os empresários portugueses como os dos outros países, mas não se voltem contra os trabalhadores. É verdade que para muitos empresários, em particular os pequenos, o seu espaço de manobra é muito limitado, mas é preciso outra atitude. Seria bom que houvesse pressão para descer o custo do dinheiro, estratégias para reduzir custos energéticos e com telecomunicações, custos de relacionamento com a administração pública. Estratégias de gestão que dêem margem nos salários. Não me digam que não aguentam um aumento do salário mínimo de 80 cêntimos por dia, por trabalhador. Então não é possível um bocadinho de pressão [nos custos] que dê essa margem? Evidente que é.
Segundo dados recentes da Comissão Europeia, Portugal registou em 2009 a maior subida dos custos do trabalho (5,8%), acima da produtividade. Em 2010 apesar da quebra para 0,8%, o custo continua a ser dos mais altos e acima da média. É sustentável ter aumentos salariais muito acima da produtividade?
Se os salários acompanhassem a evolução da produtividade em Portugal seriam hoje bem maiores. Se há conceitos manipulados são os da produtividade e competitividade. Os nossos trabalhadores são tão produtivos como os outros, o que é demonstrado, por exemplo, pela emigração. Mas um trabalhador com uma enxada, por mais que cave não compete com um tractor: tudo depende do produto em causa e das técnicas. É tempo de não sermos governados pelas opiniões tecnocráticas e de a política ter o seu papel. ionline
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