sábado, 7 de novembro de 2009
Justiça doa a quem doer, pede Sócrates
"Com certeza que telefonei ao dr. Armando Vara porque é meu amigo e camarada. Como sabem, este processo entristece-me pelo facto de envolver um amigo meu de há tantos anos." As amizades escolhem-se e José Sócrates, ontem, não teve qualquer prurido em assumir a forte ligação que mantém com Armando Vara, arguido no Face Oculta. "Acontece que faço chamadas para os meus amigos e vou continuar a fazê-las", reagiu ainda o primeiro-ministro a propósito da notícia do "Sol", que dava conta de que chamadas suas para Vara foram interceptadas pelas escutas autorizadas pelo Tribunal de Aveiro.
A ligação entre os socialistas remonta pelo menos a 1988, ano em que Sócrates enfrentou pela primeira vez a Assembleia da República para apresentar um projecto de lei, delineado em conjunto com Armando Vara. O tópico: permitir a publicação de sondagens durante as campanhas eleitorais, exceptuando a última semana. Dois anos depois ambos juntam-se a Fátima Felgueiras, Virgílio de Sousa e Rui Vieira - marido de Edite Estrela - e lançam a Sovenco, empresa de venda de combustível. A aposta não corre bem. Apesar disso, dois anos depois a relação Sócrates-Vara aprofunda-se.
23 Fevereiro de 1992. Guterres vence Sampaio no Congresso do PS onde várias facções se digladiavam. Sócrates era o delfim do futuro primeiro-ministro, Vara apoiava Jaime Gama. Ambos unidos pelo mesmo propósito: derrotar Sampaio. Objectivo concretizado e nos anos seguintes a relação vai ganhando mais força, tendo o primeiro marcado presença no casamento de Sócrates com Sofia Fava, uma celebração contida, segundo relatam. Por essa altura, ambos também coincidiam na liderança das federações distritais do PS - Bragança e Castelo Branco, respectivamente - até que em 1995, chegam ao governo com Guterres.
Fim de um sonho Com o fim do guterrismo, começa a ascensão do actual primeiro-ministro e uma evolução no sentido inverso de Vara, chamuscado pelo escândalo da Fundação para a Prevenção Rodoviária. É nesta altura que Sócrates procura cimentar ainda mais as suas amizades. "Depois de sair do governo, Sócrates começou a criar uma 'rede informal de amigos', era como lhe chamava. Dizia que não era candidato a nada mas que as principais decisões no PS não podiam passar sem o nosso conhecimento", recorda Renato Sampaio na biografia de Eduarda Maio sobre o primeiro- -ministro. "Éramos um grupo informal de amigos mas não podíamos dar a ideia de que havia alguma conspiração contra Ferro. Cá fora nunca nos encontrávamos todos ao mesmo tempo mas, no Parlamento, almoçávamos sempre juntos e jantávamos juntos muitas vezes", completa Fernando Serrasqueiro. Nesta "rede informal de amigos" estavam: Pedro Silva Pereira, Ascenso Simões, José Lello, Luís Patrão, Fernando Serrasqueiro, Renato Sampaio, Laurentino Dias ou Armando Vara. "Sócrates conservava o grupo unido. A sua rede de amigos vigiava os movimentos das várias famílias socialistas, partilhava informação e actuava no sentido de fortalecer o conjunto." Este grupo unido acabou todo por subir com a vitória do primeiro-ministro sobre Santana Lopes. Vara, depois da queda pós-Guterres, voltava na mó de cima: Sócrates reservara-lhe um cargo de administrador da Caixa Geral de Depósitos. Anos depois, Sócrates pede justiça "doa a quem doer", leia-se: "Nem que me doa."
ionline
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