quarta-feira, 25 de março de 2009

Eleições

A Lei da Paridade, que obriga à inclusão de um terço de mulheres nas listas eleitorais, vai funcionar pela primeira vez este ano. Os partidos estão a deparar-se com dificuldades em angariar candidatas, sobretudo para as autárquicas. O CDS diz que teme que venham a existir listas que são um logro. Ao invés, o PS e o BE dizem que a lei só vai beneficiar a democracia.
À excepção do PS, autor da Lei da Paridade aprovada em 2006, os restantes partidos admitem que as quotas de mulheres impostas legalmente, e que vão funcionar pela primeira vez, estão a gerar muitas dificuldades, sobretudo na elaboração das listas às eleições autárquicas. "É um esforço enorme. Não sei se conseguiremos cumprir na íntegra o que a lei obriga", confessa ao DN o coordenador autárquico do CDS.
Hélder Amaral diz que lhe chegam relatos de listas que estão "a ser feitas com familiares directos, irmãs, tias, primas, sem qualquer apetência pela política" apenas para que o número de mulheres seja preenchido a todo o custo. "Espero que no pós-eleições não se assista a uma troca maciça dessas mulheres apenas por homens e que, no fim, existam um conjunto de listas que são um logro eleitoral!"
O BE e o PS saem em defesa desta lei que estipula que um terço das mulheres, ou seja uma por cada três homens, componham as listas às europeias, legislativas e autárquicas. O líder parlamentar bloquista, Luís Fazenda, inscreve os problemas levantados pelos centristas no rol das "velhas críticas". E no que toca aos "familiares directos" que assustam Hélder Amaral, diz: "Eu também espero que não haja muitos homens fictícios nas listas..." Luís Fazenda admite, contudo, que cumprir as quotas nas autárquicas "é mais difícil" já que envolve entre 50 a 60 mil candidatos aos vários órgãos autárquicos. "Estabelecemos uma orientação de que não entregaremos listas que não cumpram a paridade."
O porta-voz do PS, Vitalino Canas, frisa que no seu partido as resistências foram semelhantes quando as quotas foram impostas internamente. "O que está a suceder no PS é que cada vez há mais mulheres." Na sua opinião, se a Lei não obrigasse os partidos a procurar mulheres para a política, o status quo masculino continuaria a barrar a sua entrada nesta actividade. "No início será difícil, depois será automático."
O ex-secretário-geral do PSD e actual membro da Comissão Coordenadora Autárquica do partido, Miguel Macedo, que não simpatiza muito com a lei, afirma que cumprir as quotas "vai ser difícil para todos". Tanto mais que o desrespeito pela legislação acarreta um corte de parte da subvenção estatal aos partidos.
Jorge Cordeiro, membro da Comissão Política do PCP, reitera a ideia de que a Lei da Paridade serviu "apenas para a lavagem da cara" do PS, porque "passa ao lado da efectiva participação das mulheres". E também ele antevê dificuldades na elaboração das listas às eleições autárquicas.
Os politólogos ouvidos pelo DN são favoráveis à lei. "As grandes conquistas da humanidade puseram sempre o carro à frente dos bois. Aconteceu com a abolição da escravatura, com o sufrágio feminino, acontece agora", sublinha José Adelino Maltez. Afirma que a lei apenas é "um sismógrafo" que mostra a realidade de uma sociedade que desinvestiu na participação das mulheres.
Já António Costa Pinto diz que a lei obriga os partidos a pensar, a escolher com mais critério e a recrutar mulheres. "A lei é boa numa sociedade que ainda discrimina o género feminino a muitos níveis", acrescenta.
dn

Sem comentários: