terça-feira, 31 de março de 2009

Viagem de Teresa Salgueiro chega à tradição portuguesa

Foram necessários quatro discos para que Teresa Salgueiro olhasse para um deles como "o primeiro verdadeiramente a solo". O prenúncio de mudança parte logo da capa: Teresa deixa cair o "s" que é substituído pelo "z" com que o avô escrevia o seu nome. Nesse tempo, ouvia Chico Buarque ou Gal Costa, mas também Amália Rodrigues, José Afonso e Sérgio Godinho. Portugal esteve sempre presente na sua biografia. Matriz é a sua homenagem definitiva à tradição lusa.
Pela primeira vez, Teresa Salgueiro dedica-se "a full time" a um disco seu já que "os dois anteriores foram feitos ainda na óptica do regresso dos Madredeus". Recordando: o "brasileiro" Você e Eu - "é um país cuja cultura musical admiro com extraordinários autores e intérpretes" - e o "universal" La Serena, que define como "uma viagem muito grande que permitiu entrar em contacto com diversas realidades ". Ainda antes de abandonar definitivamente os Madredeus, participou em Silence, Night and Dreams, do compositor polaco Zbigniew Preisner.
A relação de Teresa Salgueiro com a tradição nacional esteve sempre presente, mas só agora se concretizou o sonho de "cantar uma recolha de música portuguesa", que serve de base a um espectáculo "que celebra a antiguidade e riqueza da nossa cultura popular". Depois de dois anos a "cantar em latim e em português com sotaque", o regresso à palavra em português deu sentido a uma viagem até "à matriz".
O ponto de partida foram as recolhas de Michael Giacometti e Fernando Lopes-Graça, por sugestão da cantora Filipa Pais. Cantiga da Ceifa foi a primeira canção a ser trabalhada, ainda durante a digressão de La Serena. "O Jorge [Varrecoso, compositor] teve a ideia de a alinhar no primeiro encore e as reacções foram extraordinárias." A partir daqui "nasceu a ideia de construir um disco que percorresse espaço e tempo da cultura portuguesa". É nesse contexto que intervém sobre o repertório de D. Dinis - "um poeta e rei extraordinário"- e João Zorro (um jogral português da corte do mesmo rei), ainda que com a ajuda de Pedro Caldeira Cabral, que adaptou duas canções aos "tempos modernos".
A viagem percorre séculos da história de Portugal e termina com Fausto e Carlos Paredes, "por serem autores extraordinários que criaram um universo muito próprio". Pelo meio "há fados que representam a canção de Lisboa", ou não fosse Teresa Salgueiro uma filha do Olissipo. "Lisboa sempre foi uma cidade muito cosmopolita em relação a Portugal", defende. E que prova mais clara poderia haver do seu amor por Portugal do que nunca ter sequer pensado em radicar-se noutro ponto do globo? "Sempre gostei muito do meu país. Há muitas coisas que deveriam mudar, mas nunca quis estabelecer-me noutro lugar", confessa. E isto apesar de ser uma das mais importantes vozes da lusofonia. A diáspora de Teresa Salgueiro segue uma lógica semelhante à dos navegadores: "A única forma que havia de comunicarmos era através das viagens.
dn

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