segunda-feira, 2 de março de 2009

Estrela da tarde

Estrela da tarde
Era a tarde mais longa de todas as tardesque me aconteciaeu esperava por ti, tu não vinhastardavas e eu entardeciaEra tarde, tão tarde, que a boca,tardando-lhe o beijo, mordiaquando à boca da noite surgistena tarde tal rosa tardiaquando nós nos olhamos tardamos no beijoque a boca pediae na tarde ficámos unidos ardendo na luzque morriaem nós dois nessa tarde em que tantotardaste o sol amanheciaera tarde de mais para haver outra noitepara haver outro dia.
Meu amor, meu amorMinha estrela da tardeQue o luar te amanheça e o meu corpo te guardeMeu amor, meu amorEu não tenho a certezaSe tu és a alegria ou se és a tristeza.Meu amor, meu amorEu não tenho a certeza.
Foi a mais bela de todas as noitesQue me aconteceramDos nocturnos silencios que à noiteDe aromas e beijos se encheramFoi a noite em que os nossos doisCorpos cansados não adormeceramE da estrada mais linda da noite uma festaDe fogo fizeram.Foram noites e noites que numa só noiteNos aconteceramEra o dia da noite de todas as noitesQue nos precederamEra a noite mais clara daquelesQue à noite amando se deramE entre os braços da noite de tantoSe amarem, vivendo morreram.
Eu não sei, meu amor, se o que digoÉ ternura, se é riso, se é prantoÉ por ti que adormeço e acordoE acordado recordo no cantoEssa tarde em que tarde surgisteDum triste e profundo recantoEssa noite em que cedo nasceste despidaDe mágoa e de espanto.Meu amor, nunca é tarde nem cedoPara quem se quer tanto.
de Ary dos Santos

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