A estudar este tipo de violência física ou psicológica desde 1994, Werner Katwijk, director da Ouders & Coo, afirmou hoje no seminário «Bullying - Prevenção da violência na escola, no trabalho e na sociedade», promovido pela Fundação Pró Dignitate, que dois milhões de crianças são severamente vítimas deste fenómeno na Europa.
Katwijk citou um estudo realizado em 2000 na Holanda com crianças que frequentavam a escola, segundo o qual, dos 2,4 milhões de crianças holandesas, 385 000 eram vítimas de bullying por outras crianças e entre elas 75 000 foram de tal forma vítimas de violência física e psicológica que a vida escolar se tornou um inferno.
Segundo o responsável, estas crianças que foram vítimas graves deste tipo de violência e que tiveram de repetir um ano na escola representaram um custo médio para o Estado de nove mil euros.
Por outro lado, acrescentou, uma criança vítima de bullying irá enfrentar muitos problemas durante a vida: desde distúrbios na alimentação, desemprego, problemas de relações humanas, o medo de terem os seus próprios filhos e um elevado risco de suicídio como resultados destes traumas.
«Os efeitos de bullying são graves e causam falta de auto estima. As pessoas sentem-se insignificantes e sem valor», comentou.
Mas este fenómeno não atinge só crianças, há também muitas vítimas no local de trabalho.
Um estudo holandês revelou que cerca de 300 mil trabalhadores eram vítimas deste fenómeno no local de trabalho, o que representa um custo anual de cerca de 12 milhões de euros naquele país.
Segundo Katwijk, o custo médio de um trabalhador vítima de bullying é de 50 mil euros
«Se compararmos a Holanda com Portugal e se partirmos do princípio de que a média do trabalhador português é semelhante ao holandês os resultados serão parecidos», sustentou.
Presente no seminário, o psicólogo criminal Carlos Poiares afirmou que há uma «ligação muito grande entre a violência em casa e a violência na escola».
«Quando o marido bate na mulher está, pelo menos, a agredir psicologicamente os filhos», sublinhou o psicólogo, acrescentando que muitas vezes a criança reproduz a violência a que assiste, porque percebe que «quem é violento é quem manda em casa».
Para Carlos Poiares, o combate à violência passa pela família, rua, médico e escola e pela prevenção, que é fundamental.
«Nós não temos maus pais, maus professores e maus alunos. O que temos são maus cidadãos», afirmou, considerando que há um défice em Portugal na «formação para a cidadania».
O psicólogo criticou ainda a violência mediatizada nas televisões, nomeadamente nos desenhos animados.
«A violência é a segunda fonte de rendimento, a seguir ao futebol, para quem a mediatiza», frisou.
Esta opinião foi partilhada pela presidente da Fundação Pro Dignitate, Maria de Jesus Barroso, afirmando que a comunicação social tem uma grande responsabilidade social e pode inverter esta situação.
«A sociedade está muito embebida de violência e temos de obrigação de fazer um esforço no sentido de a diminuir ou eliminá-la», afirmou Maria Barroso à agência Lusa, à margem do encontro.
A secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação, Idália Moniz, salientou, por seu turno, o papel das escolas, que devem de «um modo formal e informal combater a segregação e exclusão social» e aprofundar as ligações com a comunidade.
Para Idália Moniz, a forma de combater este fenómeno passa também por um trabalho de capacitação não só dos técnicos, como dos interventores a nível educativo e pedagógico.
Lusa/SOL
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