Estas são as conclusões de um estudo da Fundação AMI, que aponta para uma condição de "dupla discriminação".
"A pobreza coloca-as numa situação de dupla discriminação em relação à maioria das mulheres", aponta o estudo, sublinhando que "na vida destas mulheres a família ou o Estado não tiveram um papel protector ou gerador de autonomia".
Segundo a investigação, "este perfil de mulher não se enquadra em nenhum modelo social", vivendo uma situação de "nudez social".
"Ela é vítima de pobreza extrema, uma espécie de fim de linha, na vida dela quase tudo falhou", refere.
O estudo, elaborado pela investigadora Ana Ferreira Martins, da Fundação da Assistência Médica Internacional (AMI), venceu o prémio municipal Madalena Barbosa, de promoção da igualdade de género.
A investigadora entrevistou os utentes dos centros da AMI de Lisboa, em Chelas e Olaias, entre Janeiro de 2003 e Dezembro de 2006.
O estudo confirma as conclusões de investigações anteriores segundo as quais as mulheres são minoritárias na população de rua: no período analisado, a procura de mulheres aos serviços da AMI representou 20 por cento dos utentes.
O número mais elevado de mulheres que recorre aos apoios sociais da AMI encontra-se na faixa entre os 21 e os 39 anos, em contraponto com os homens, que têm sobretudo entre 30 e 49 anos.
As mulheres sem-abrigo apresentam percentagens ligeiramente superiores em relação aos homens de integração profissional, sobretudo tarefas pontuais de limpeza, que estão contudo fora do mercado de trabalho legal, sem fazer quaisquer descontos para a Segurança Social.
Quase 40 por cento das mulheres sem-abrigo nunca fizeram descontos para a Segurança Social, enquanto que nos homens a percentagem é de 25 por cento.
Os homens dedicam-se, contudo, mais à mendicidade que as mulheres: 58 por cento dos homens contra 36 por cento das mulheres.
De acordo com o estudo, as mulheres procuram mais o apoio de amigos e de familiares e nos locais de pernoita, destaca-se que a maior percentagem de mulheres (25 por cento) encontra-se no item "outros", ou seja vivem pontual e precariamente e sem segurança num local não pré-definido na entrevista.
Casas de amigos, salas de espera de hospitais, casas de alterne, casas de avós onde vivem os filhos, são exemplos destes locais.
São em maior número os homens que dormem na rua (33 por cento) do que as mulheres (20 por cento), valores semelhantes ao número de mulheres e homens que pernoitam em albergues.
Outro traço distintivo entre homens e mulheres é a solidão e o estado civil.
Entre as mulheres, 29 por cento são casadas ou vivem em união de facto, contrastando com oito por cento dos homens.
Ao nível das relações, uma significativa maioria dos homens (84 por cento) afirma-se só, uma condição descrita por 40 por cento das mulheres.
A primeira edição do prémio Madelena Barbosa premiou ex-aequo o Núcleo de Investigação Faces de Eva da Universidade Nova de Lisboa e a União de Mulheres Alternativa Resposta (UMAR), pelo projecto "Memórias e Feminismos: Mulheres e República na cidade de Lisboa", para a publicação de um roteiro e uma agenda feministas.
O júri do prémio foi presidido por Maria Antónia Palla, em representação da Câmara de Lisboa, e por Elza Pais, em representação da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, e integrou a investigadora Manuela Tavares, a escritora Maria Teresa Horta e a jornalista Sofia Branco.
jn
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