Pouco convencido, o eleitorado do PS perdeu o entusiasmo, ou mudou-se para o Bloco.
Que fazer?
Em primeiro lugar, é necessário afastar a confusão entre liberalismo e neoliberalismo. Algumas vezes no seu passado recente, o PS enveredou por políticas neoliberais que reforçaram a privatização e a desregulamentação da economia, ao mesmo tempo que nada faziam de substancial para diminuir as desigualdades. Agora, urge corrigir estes erros e ter em conta que o liberalismo da esquerda não é confundível com o neoliberalismo da direita. O liberalismo da esquerda afirma a primazia das liberdades individuais e do princípio da não discriminação, mas não sacraliza o mercado e releva especialmente a igualdade de oportunidades e a distribuição da riqueza num sentido igualitário. Aliás, para evitar confusões com a direita, mais vale ao PS usar a palavra "liberdade" em vez de "liberalismo" - o que, de resto, já costuma fazer.Em segundo lugar, é necessário evitar a confusão entre socialismo democrático e socialismo estatista. A memória marxista da esquerda leva-a por vezes a pensar que a única alternativa ao neoliberalismo da direita é o regresso a uma espécie de socialismo de estado. Isso é um absurdo. A economia de mercado é insubstituível e não faz qualquer sentido confundi-la com as políticas neoliberais que, como vimos recentemente, conduziram ao soçobrar desse mesmo mercado e não ao seu triunfo final. Aquilo de que precisamos é de um socialismo amigo do mercado e das liberdades, mas com fortes preocupações igualitárias ao nível da fiscalidade, do sistema de saúde, da segurança social, etc. Este socialismo das liberdades, como é bom de ver, está muito próximo do liberalismo de esquerda.
por João Cardoso Rosas Professor universitário de Teoria Política
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