domingo, 7 de junho de 2009

O que as mulheres querem de um homem

Quando me perguntam o que uma mulher quer de um homem, lembro- -me quase sempre da frase de Woody Allen: "É melhor ser o amante ou o amado? Nenhuma das coisas, se o colesterol passar dos seiscentos". Porque me lembro desta frase? Não faço ideia. Talvez porque a resposta, não sendo óbvia, não é unívoca, ou, sendo óbvia, é apenas extensa e correríamos o perigo de este jornal, comprado pela manhã, passar de validade. Uma amiga encontrou o homem de sonho. Ela passarinhava em casa com o mesmo roupão masculino da puberdade, penugem junto aos tornozelos, unhas cortadas à trouxe-mouxe, recorrendo ao corta-unhas, ferrugento de ser deixado molhado na banheira. Ele compensava--lhe a falta de jeito. Escolhia o vinho, de nariz enfiado no copo, e a roupa das reuniões que pendurava de véspera no cabide. Dava a provar o risotto, ainda ao lume, às visitas, sem deixar cair nódoas na camisa de linho. Surpreendia-a com bilhetes para o CCB, onde ela ia contrariada e entre bocejos. Levitava na sala em posição de ioga e tronco nu e, de o ver, sentia-se formigueiro. Arquitecto, trabalhava em casa, sob o sol de Inverno, no jardim onde cuidava das orquídeas e de uma nespereira anã, que plantou e via crescer atentamente. Fazia companhia e escutava sem criticar. Terminei dois namoros, depois de lhe ouvir os alvitres, inscrevi-me no ginásio para tonificar, porque - na verdade - não preciso de perder peso, passei a ver a poligamia com a demanda da época, esqueci questões morais caducas e distribuí panfletos contra às peles em frente às lojas da Baixa, vestida de raposa esquartejada. Ela não parecia entusiasmada com o que lhe calhara na rifa. Percebi-lhe a inquietação, depois de o ver entrar, elegante de fazer inveja, vestido de cabedal e sorridente para um bar gay da moda. O risco de almejar a perfeição é ter como homem ideal uma mistura de veado Bambi, sem as manchas, com a Filipa Vasconcelos disfarçada de Clube Bimby, três pisos das Galerias Lafayette, entre os sapatos de berloques e a camisa italiana, vinte revistas da "Marie Claire", incluindo os especiais de moda e cremes anti-age, um hamster de roda, vários voucheres para cinema e entradas VIP, a habilidade política de amaciar verdades de Sarkozy com a altura do Rodrigo Santoro e a conversa de café de Jean-Marie Gustave Le Clézio entrecortada pelas confissões da Oprah. O que as mulheres querem de um homem não é o que dizem querer. Uma forma inteligente de manter o tabu e enganar os primários.
por Filipa Martins

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