O Luxemburgo surge no estudo como o país com maior incidência de infecções por via externa. Os investigadores sugerem que a taxa de incidência no país estará directamente relacionada com o facto de 13 por cento da população ser constituída por imigrantes portugueses.
Em declarações à agência Lusa, o epidemiologista Henrique Barros afirmou que no estudo se misturam «conceitos perigosos de migração do vírus com o conceito tradicional de migração de pessoas».
«Fazem-se algumas inferências na discussão que podem ser mal interpretadas porque dá a ideia de que os imigrantes é que são responsáveis pela transferência da infecção. Ao mesmo tempo diz-se que são países que têm muitos viajantes, muitos turistas, e pode haver aqui uma espécie de mistura que, obviamente, não é fácil de mostrar» .
Henrique Barros ressalvou que a infecção por VIH é muito prevalente em Portugal e é «aceitável que haja esses cruzamentos».
«As pessoas movimentam-se e os vírus movem-se com as pessoas, mas todas estas técnicas laboratoriais e estatísticas são extremamente complexas e muito falíveis. Não se pode tirar daqui ilações de natureza de política de saúde» , sublinhou.
De acordo com o responsável, o próprio artigo tem algumas cautelas, afirmando que «não se pode inferir as vias migratórias através destas análises de filogenia».
«Isto são técnicas extremamente complexas, de difícil análise e muito sujeitas a erros variados» , acrescentou.
O coordenador nacional da infecção VIH/Sida manifestou-se ainda preocupado com o impacto que o estudo poderá ter.
«Preocupa-me especialmente se começamos a imaginar que são os turistas, as pessoas que viajam ou os imigrantes que andam a propagar o vírus» , quando é um problema de educação e de medidas de preparação adequadas, sustentou.
O estudo partiu de uma análise filogenética molecular, que permite detectar a evolução do vírus conforme se vai mutando por transferência ou dentro do próprio organismo.
Do projecto, patrocinado pela Comissão Europeia, resulta um mapa com os principais caminhos de propagação do subtipo B do VIH-1, o mais comum no espaço europeu, em 17 países da UE e Israel.
O último relatório do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) sobre a situação epidemiológica da infecção VIH/Sida refere que a 31 de Dezembro de 2008 se encontravam 34 888 casos notificados.
O maior número de casos notificados é de utilizadores de drogas por via endovenosa, representando 42,5 por cento de todas as notificações, reflectindo a tendência inicial da epidemia no País.
O número de casos associados à infecção por transmissão sexual (heterossexual) representa o segundo grupo com 40,0 por cento dos registos e a transmissão sexual (homossexual masculina) apresenta 12,3 por cento dos casos.
As restantes formas de transmissão correspondem a 5,2 por cento do total. Os casos notificados de infecção VIH/SIDA que referem como forma provável de infecção a transmissão sexual (heterossexual) apresentam uma tendência evolutiva crescente.
Citando os dados do INSA, Henrique Barros disse que Portugal está «numa fase de diminuição do número de casos, provavelmente como reflexo do aumento da prevenção, no tratamento».
«Saber se isto é sustentável só o tempo o poderá dizer» .
Lusa / SOL
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