Polícia federal americana divulgou mil páginas com documentos sobre a operação que pôs fim a um ano de fuga do mais famoso casal de fora-da-lei, que ainda hoje fascina.
A imagem de uma mulher frágil a apontar uma grande espingarda a um homem de chapéu, divulgada pela polícia americana na Primavera de 1933 depois de revelarem um rolo deixado numa casa ocupada por um grupo de assaltantes fez de Bonnie Parker e Clyde Barrow o mais famoso casal de fora-da-lei da História dos EUA.
Agora, 75 anos depois da emboscada que pôs fim às suas vidas e a uma fuga de mais de um ano, o FBI revelou quase mil novas páginas de documentos - inclusive recortes de imprensa e fotografias como a do carro com as marcas de balas no vidro - com pormenores sobre a cooperação entre polícias na operação que terminou a 23 de Maio de 1934.
"Estas páginas descrevem o envolvimento do Bureau na perseguição a Bonnie e Clyde", pode ler-se no site do Federal Bureau of Investigation (FBI, na altura apenas Bureau of Investigation), que assinala o Ano do Bandido. A informação fora compilada pela delegação de Dallas, no Texas, uma das mais importantes na operação policial que levou à morte do casal de assaltantes depois de uma caça ao homem através de oito estados americanos. Foi preciso um forte aparato policial e uma cortina de balas para parar o Sedan no qual seguiam Bonnie e Clyde, num cruzamento de uma estrada de terra batida perto de Sailes, na Luisiana.
Assim terminava uma história que ainda hoje faz parte do imaginário americano - como prova o regresso ao cinema da dupla em A História de Bonnie e Clyde, com estreia marcada nos cinemas em 2010, depois do filme de 1967 com Faye Dunaway e Warren Beatty e de vários livros e canções inspirados nas suas aventuras.
Mas a realidade é menos glamourosa do que a ficção. Bonnie Parker nasceu no Texas em Outubro de 1910. Aos quatro anos perde o pai e aos 15 apaixona-se de tal forma que manda tatuar na coxa o nome de Roy Thornton. Devia ter esperado. Porque um ano depois do casamento já o marido a deixara. Quando conheceu o belo Clyde Barrow na casa de um amigo comum, em 1930, a jovem Bonnie já tinha atrás dela uma longa história de sofrimento.
Só e deprimida, não resistiu ao charme deste filho de um agricultor texano, que aos 12 anos deixou a escola e cedo começou a ter problemas com a justiça. Juntos, embarcaram numa aventura que só tinha um final possível: a morte. Foi Bonnie quem levou a Clyde a faca com quem este se evadiu a primeira vez da prisão. Depois disso, ambos foram trocando de parceiros - entre os quais o irmão de Clyde, Marvin, e a mulher deste - num ano de fuga que os levou por oito estados. Para trás, deixaram vários bancos assaltados e uns quantos cadáveres, sobretudo de polícias que se cruzaram no seu caminho. Várias vezes surpreendidos, ambos foram baleados, mas conseguiram sempre escapar.
Até 23 de Maio de 1934. Todos os anos, nessa data, a cidade de Gibsland, no Luisiana organiza um festival em homenagem à dupla de assaltantes. Esta é apenas uma das manifestações culturais que o casal inspirou. Um fascínio que Joseph Geringer, o autor de Bonnie and Clyde - Romeo and Juliet in a Getaway Car disse ficar-se a dever ao "entusiasmo dos americanos pelas suas aventuras à Robin dos Bosques. A presença de uma mulher, Bonnie, aumentou a aparência de sinceridade das suas intenções para as tornar únicas - por vezes mesmo heróicas", escreveu Geringer.
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