- José Sócrates e o PS continuam a poder lutar pela fasquia da maioria absoluta lá para depois do Verão. Estes 39% em sede de europeias, com a governação condicionada pela crise e o primeiro-ministro a ter de falar sobre o chamado caso Freeport, são estimulantes para o partido do Governo. Se o chamado "cartão amarelo" for isto, então será óbvio que o País dos media,e os seus consumidores às vezes têm pouco a ver com o País real;
- O PSD resiste muito bem ao clima de guerrilha interna que viveu nos últimos quatro anos, e que decorreu também sobretudo no palco mediático. Na realidade, está bem à vista que os eleitores querem que o partido agora dirigido por Manuela Ferreira Leite, apesar dos erros e da instabilidade em alguns momentos, continue a ser uma efectiva alternativa para governar. E consideram-no como tal;
- A esquerda, à esquerda do PS, sobe para o patamar dos esperados 20%, mas não em igualdade entre o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista. A federação liderada por Francisco Louçã parece distanciar-se do partido mais activo no mundo daquilo que era o trabalho convencional no século XX - o PCP;
- O CDS/PP, que ainda nem sequer conseguiu assumir-se no nome (é centrista, como diz o símbolo e quiseram os fundadores? Ou é de direita, popular e liberal?), parece, com enorme surpresa, em vias de extinção a nível nacional e mais longe de poder aspirar a muleta governativa, quer do PS ou PSD. Provavelmente é essa duplicidade, e essa desconfiança, que o podem tornar acessório. Paulo Portas vai ter muito trabalho pela frente para ultrapassar, em campanha (ao lado de Nuno Melo), esta fraca intenção de voto que o obrigariam a ter de reflectir sobre o regresso à liderança do CDS/PP.
Em resumo, eu diria o seguinte: Portugal, afinal, não ensandeceu. Há muito mais bom senso no terreno do que aquele que tresanda sistematicamente da generalidade das análises engajadas a interesses, e até do comportamento dos políticos. Os eleitores valorizam coisas simples. A primeira, e sobretudo, é que são precisos pelo menos dois partidos com capacidade para governar para construir uma democracia saudável. A segunda é que essa alternância se deve fazer no campo daquilo que às vezes depreciativamente se chama "o bloco central".
Os portugueses podem não querer um governo dos dois partidos mas querem que a alternância se faça entre "um pouco à esquerda" e "um pouco à direita". A escolha, nos últimos 35 anos, tem sido sempre deles e repetidamente essa.
2A outra grande conclusão, mais virada para as próprias eleições europeias, é a de que os candidatos possuem pouca visibilidade mediática. Os índices de reconhecimento público de todos eles são baixos. No entanto, como já aqui escrevi a semana passada, o PSD escolheu melhor do que o PS. Paulo Rangel é mais reconhecido do que Vital Moreira, e quanto a mim melhor candidato, mais natural no seu papel, com um perfil de maior aderência à realidade partidária. Rangel é o PSD - e é futuro, Vital Moreira tem pouco a ver com o PS - e é passado. Os cartazes em que o PS vai buscar o seu legado europeu e "traz" Soares, Guterres e até Sócrates, aí já com mais naturalidade, a lembrar a importância do partido na adesão e no relacionamento com a União Europeia representam também o reconhecimento de que "este" candidato, se assegurou os equilíbrios internos e à esquerda, é no entanto pouco para fazer valer o património europeu do partido.
Também aí, no conhecimento/reconhecimento, o bloquista Miguel Portas ganha à comunista Ilda Figueiredo e Nuno Melo é último. Todos a muita distância.
Vital Moreira insultado, e parece que agredido, na manifestação da CGTP, no Dia do Trabalhador, é um sintoma de muita coisa. De que o ambiente anda crispado. De que o PCP continua a conviver mal com a diferença de opiniões e de ideias. De que, provavelmente, Vital vai conseguir vitimizar-se. Só por isso já valeu a pena ter tido a ideia de voltar a misturar-se com os seus antigos camaradas...
João Marcelino
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