Sem o saber, Manuela partilha com Cartola Cruz a devoção e a graça. Também Cartola percorreu 250 quilómetros, desde Penamacor, para chegar ali, ao Santuário, emocionar-se com a energia do lugar, e agradecer por o seu filho ter arranjado emprego. A angústia das mães pelo futuro dos filhos, num tempo em que ter uma licenciatura não basta para conseguir trabalho, era intensa. "Pedi com muita força e devoção e fui correspondida, o meu filho licenciou-se em Setembro em Engenharia de Gestão Industrial e em Março estava empregado", explica Carlota, emocionada, quando já os cânticos se ouviam no recinto do santuário, marcando o início das celebrações da 92º ano da aparição de Fátima aos pastorinhos.
Numa celebração marcada pela crise económica, o reitor do Santuário, padre Virgílio Antunes, admitiu uma quebra nas receitas, mas não quis avançar em quanto. Já o bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto apelou aos empresários para uma nova ética, que respeite a dignidade humana, e ao Governo para a necessidade de uma nova política social. Citando Kant, D.António Marto lembrou que "as coisas têm preço: as pessoas têm dignidade".
Nem todos os peregrinos que palmilham o País nestes dias o fazem para pedir graças ou pagar promessas. É o caso de Maria de Jesus, 50 anos, uma secretária de profissão com brilho nos olhos. "Venho agradecer a minha vida, tudo aquilo que passei, os momentos bons e os maus também, porque todos fazem parte do nosso crescimento", diz com uma vitalidade impensável, para quem veio a pé de Matosinhos e tem mais 20 quilómetros pela frente.
A vitalidade dos peregrinos - que andam pela estrada quatro, cinco, seis dias - é, talvez, o traço mais marcante e supreendente para quem não está familiarizado com o fenómeno. Nada que espante Isabel Gonçalves, 54 anos, que repete a experiência pela quinta vez. Não sem razão, fez uma promessa a Nossa Senhora de Fátima, ligada à saúde da sua filha. "Há cinco anos foi-lhe descoberto um tumor na coluna, numa zona onde não era possível ser operada. Fez quimioterapia durante sete meses e desde então está estacionário, ela hoje tem 34 anos e faz uma vida perfeitamente normal", explica aquela mãe de Vila Nova de Gaia. A peregrinação é uma aventura que não seria possível sem o apoio das centenas de voluntários, como a enfermeira reformada Gabriela Simões, da LBV, por cujas mãos passaram muitos pés doridos, que voltaram a ganhar asas.
dn
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