quarta-feira, 13 de maio de 2009

Ir a Fátima pagar promessa por um emprego

Conseguir emprego para si ou para os seus é, cada vez mais, razão de pagamento de promessas em Fátima. "Vim pelo meu neto, coitadinho, que esteve dois anos desempregado depois de se formar em educação física . No dia dos anos dele, a 17 de Fevereiro, prometi que se ele arranjasse trabalho eu vinha a pé a Fátima e, com a graça de Nossa Senhora, nem duas semanas depois, ele conseguiu ", conta, agradecida, a avó Manuela Gonçalves com uma energia desarmante para os seus 72 anos. Ontem, enquanto repousava num centro de apoio a peregrinos da Legião da Boa Vontade, perto da Caranguejeira, Manuela orgulhava-se de não ter "nem uma bolha nos pés", apesar de andar sobre eles desde quinta-feira, vinda de Vila Nova de Gaia. "Estou muito animada para os quilómetros que faltam, apesar das dores nos joelhos, e só posso atribuir esta força à minha fé, que é muito grande", garante.
Sem o saber, Manuela partilha com Cartola Cruz a devoção e a graça. Também Cartola percorreu 250 quilómetros, desde Penamacor, para chegar ali, ao Santuário, emocionar-se com a energia do lugar, e agradecer por o seu filho ter arranjado emprego. A angústia das mães pelo futuro dos filhos, num tempo em que ter uma licenciatura não basta para conseguir trabalho, era intensa. "Pedi com muita força e devoção e fui correspondida, o meu filho licenciou-se em Setembro em Engenharia de Gestão Industrial e em Março estava empregado", explica Carlota, emocionada, quando já os cânticos se ouviam no recinto do santuário, marcando o início das celebrações da 92º ano da aparição de Fátima aos pastorinhos.
Numa celebração marcada pela crise económica, o reitor do Santuário, padre Virgílio Antunes, admitiu uma quebra nas receitas, mas não quis avançar em quanto. Já o bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto apelou aos empresários para uma nova ética, que respeite a dignidade humana, e ao Governo para a necessidade de uma nova política social. Citando Kant, D.António Marto lembrou que "as coisas têm preço: as pessoas têm dignidade".
Nem todos os peregrinos que palmilham o País nestes dias o fazem para pedir graças ou pagar promessas. É o caso de Maria de Jesus, 50 anos, uma secretária de profissão com brilho nos olhos. "Venho agradecer a minha vida, tudo aquilo que passei, os momentos bons e os maus também, porque todos fazem parte do nosso crescimento", diz com uma vitalidade impensável, para quem veio a pé de Matosinhos e tem mais 20 quilómetros pela frente.
A vitalidade dos peregrinos - que andam pela estrada quatro, cinco, seis dias - é, talvez, o traço mais marcante e supreendente para quem não está familiarizado com o fenómeno. Nada que espante Isabel Gonçalves, 54 anos, que repete a experiência pela quinta vez. Não sem razão, fez uma promessa a Nossa Senhora de Fátima, ligada à saúde da sua filha. "Há cinco anos foi-lhe descoberto um tumor na coluna, numa zona onde não era possível ser operada. Fez quimioterapia durante sete meses e desde então está estacionário, ela hoje tem 34 anos e faz uma vida perfeitamente normal", explica aquela mãe de Vila Nova de Gaia. A peregrinação é uma aventura que não seria possível sem o apoio das centenas de voluntários, como a enfermeira reformada Gabriela Simões, da LBV, por cujas mãos passaram muitos pés doridos, que voltaram a ganhar asas.

dn

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