A decisão não agradou ao lado espanhol da família, mas os factos eram incontornáveis para os especialistas em heráldica: o ramo mais antigo da família é português e tem descendência.
Sadismo, violência, tortura e crime fizeram parte das lutas constante na Irlanda do Norte. Durante quase mil anos, clãs e famílias digladiaram-se em nome do poder.
Reza a história, que muito terá de lenda, que certo dia durante o reinado de Isabel I um chefe militar escocês cortou a cabeça aos bocados a um O'Neill, fez pickles do picadinho e mandou expor num castelo de Dublim para servir de exemplo aos outros irlandeses que quisessem voltar a pôr em causa a autoridade inglesa. Há outra história igualmente arrepiante que Laurinda Alves des-creveu n'O Independente (22 de Junho de 1992): os O'Brian, os Mc Donnell e os O'Neill lutaram pelo poder desde a Idade Média. As relações entre os clãs eram de tal modo violentas que certa vez um Mc Donnell comeu um O'Neill. A prova do crime ficou documen-tada num bizarro mural no castelo de Lady Antrim onde se vê um Mc Donnell "having for dinner roasted O'Neill" (jantando um O'Neill assado). O escritor Alexandre O'Neill costumava dizer que em 30 gerações da família, que considerava de aventureiros destemidos, poucos morreram de morte natural.
Longínqua, quase a perder de vista, a história dos O'Neill tem 1300 anos. No ano 425, o 53.º avô de Hugo O'Neill, o rei Eoghain, conquistou aos celtas o forte de Grianan of Aileach. " Foi daqui que os meus antepassados partiram à conquista do território no Norte e depois se expandiu para toda a Irlanda", disse Hugo O'Neill na cerimónia em que foi reconhecido chefe da família que decorreu no mesmo forte. Foi também aquele lugar que ditou o fim do poder dos O'Neill na Irlanda. Em 1607, no chamado The Flight Of The Earls - episódio da história da Irlanda que se refere ao exílio compulsório da aristocracia do Ulster - Hugh O'Neill, o último rei do Ulster, deixou o país.
A Portugal o primeiro O'Neill chegou em 1736. Chamava-se Shane e tinha boas relações com a monarquia e a mais alta aristocracia.
As lendas violentas à volta do clã perpetuaram-se no tempo. E até a bandeira da família esconde histórias rocambolescas. Há muitos anos, muitos anos, um membro da família disputou com um rival a conquista de uma ilha. Combinaram que o pedaço de terra ficaria para quem a alcançasse primeiro. Cada um na sua embarcação, partiram ao mesmo tempo mas rapidamente percebeu-se que o rival do O'Neill iria ganhar a corrida. Perante o desfecho inevitável, O'Neill cortou a mão e atirou-a para terra para mostrar que chegara primeiro. Ainda hoje a bandeira da família tem uma mão encarnada desenhado sobre um peixe, o símbolo mais antigo dos cristãos.
À família esta história de contornos arrepiantes provoca uma gargalhada. Dizem que não passa de uma lenda que ajuda a sedimentar a imagem dos clãs irlandeses como bárbaros sádicos. A verdade, garantem, é bem menos arrepiante: a mão significa a lei de sucessão e o pulso, o chefe que se prolonga pelos sucessores.
DN
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