Mão pesada contra os desordeiros e acusações de graves cumplicidades internacionais: foi assim que a classe dirigente chinesa reagiu ontem aos graves conflitos étnicos no Xinjiang, que desde domingo provocaram 156 mortos e mais de mil feridos. E chega a apontar um dedo acusador à Al- -Qaeda.
"Os incidentes de 5 de Julho foram actos muito graves de violência criminal, organizados e premeditados, destinados a sabotar a unidade nacional e a solidariedade étnica no interior do país", afirmou, em conferência de imprensa, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang. Pequim responsabiliza os muçulmanos uígures, que estão em maioria no Xinjiang, de pretenderem separar a região do resto da China com o apoio logístico da Al- -Qaeda, de Ben Laden, e outras organizações terroristas internacionais de matriz islâmica.
A violência étnica no Xijiang - a maior das províncias da República Popular - surpreendeu a classe dirigente chinesa ao ponto de fazer regressar de Itália o Presidente Hu Jintao, que já ali se encontrava para participar na cimeira do G8. Em Pequim, numa reunião extraordinária da Comissão Permanente do Comité Central do Partido Comunista Chinês (PCC), o chefe do Estado deu ontem instruções às autoridades provinciais para pacificarem Urumqi, a capital do Xinjiang, com mão dura.
O recado foi seguido à risca: depois de se reunirem com o Presidente, os dirigentes regionais do PCC garantiram que novos actos de violência serão punidos com "castigos severos", que poderão chegar à pena de morte. A República Popular da China lidera, destacada, a lista dos países do mundo que aplicam com mais frequência a pena capital.
Os graves conflitos no Xinjiang - a maior violência étnica registada na China nas últimas quatro décadas - foram o único tema em debate na Comissão Permanente do PCC, o órgão máximo da cúpula política do país, gerido desde 1949 pelo Partido Comunista. Na reunião, segundo relatos da agência noticiosa oficial Xinhua, foi sublinhado que o Xinjiang constitui uma "questão interna" da China, que não admite ingerências estrangeiras. Fora de causa está a constituição de uma comissão de observadores internacionais sugerida por países como a Turquia, que mantêm estreitos laços históricos e culturais com a maioria uígure do Xinjiang.
O enviado especial da BBC a Urumqi observou uma vasta coluna de veículos militares a patrulhar a capital do Xinjiang, onde reinava ontem uma calma tensa. Mantém-se em vigor o cessar-fogo entre as nove da noite e as oito da manhã, mas as mesquitas voltaram a encher-se de fiéis no principal centro muçulmano da República Popular da China.
Os bandos de arruaceiros de etnia han - largamente maioritária na China mas minoritária no Xinjiang - desapareceram das ruas, vigiadas também por helicópteros militares. Mas a normalidade vem longe. "Como podem as coisas voltar ao normal com tantos soldados aqui nas ruas?".
dn
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