segunda-feira, 6 de julho de 2009

Prémio Gulbenkian foi atribuído a cientista do Porto

O prémio Gulbenkian Ciência 2009 foi atribuído à cientista Maria João Saraiva, pela investigação desenvolvida ao longo de 30 anos, incidindo sobretudo sobre a doença dos pezinhos. A distinção vale 50 mil euros.
"Um prémio de carreira é o reconhecimento de um trabalho que, obviamente, não é só de uma pessoa, mas de uma equipa inteira", afirmou ao JN a cientista, de 54 anos, formada nos Estados Unidos, e actualmente investigadora do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) e professora catedrática de bioquímica da Universidade do Porto.
A investigadora foi distinguida pelo trabalho desenvolvido na área da biomedicina, em particular na investigação dos mecanismos de Polineuropatia Amiloidótica Familiar, vulgarmente conhecida por doença dos pezinhos.
"Se o nome do eminente neurologista Corino de Andrade ficou para sempre ligado à descrição desta doença, o de Maria João Saraiva ficará vinculado à descoberta dos mecanismos bioquímicos e genéticos responsáveis pela doença, nomeadamente a formação de depósitos de moléculas de amilóide derivada de transtirretina, especialmente nos nervos", explicou, em comunicado, a Fundação Calouste Gulbenkian.
A partir destas descobertas Maria João Saraiva e a sua equipa "alargam o seu campo de investigação às vias de sinalização que desempenham um papel importante em situações de lesões cerebrais, particularmente no quadro da doença de Alzheimer", acrescentou ainda a Fundação.
Mário Corino de Andrade foi o primeiro cientista a identificar e caracterizar a doença em 1953, tendo-lhe depois dedicado toda a sua vida. Faleceu há quatro anos. O Governo aprovou ontem, por isso mesmo, e por unanimidade, o dia 16 de Junho como o Dia Nacional de Luta Contra a Paramiloidose, depois de uma recomendação feita pelo PCP. A Associação Portuguesa de Paramiloidose já o havia proposto no final do ano passado, tendo chegado a reunir sete mil assinaturas para o efeito. O processo esteve parado, e só ontem foi desbloqueado.
"É uma forma de homenagear o professor que dedicou toda a sua vida a esta doença", realçou Carlos Figueiras, o presidente da APP. A data servirá também para "sensibilizar a população para um problema" que afecta cerca de 600 famílias. "Estão identificados mais de dois mil casos em Portugal, localizados, sobretudo, no litoral norte (na Póvoa de Varzim e Vila do Conde) e centro do país. Porém, os portadores do gene alterado, que podem desenvolver a doença, podem rondar os seis mil", sublinhou Carlos Figueiras.
Maria João Saraiva chegou a conhecer Corino de Andrade. "Conheci-o nos últimos anos em que esteve activo e foi uma pessoa que me orientou para esta carreira e com tive muitas conversas sobre ciência. Este prémio é também o reconhecimento do privilégio de o ter conhecido".
O júri do prémio Gulbenkian Ciência, instituído por ocasião do 50º aniversário da Gulbenkian, foi presidido por Fernando Lopes da Silva e completado por Alexandre Quintanilha, Augusto Barroso, Luís Magalhães e Manuel Nunes da Ponte.j
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